Curtindo sem medo

Tribuna | 14 de outubro de 2015 | Foto: Brunno Covello/SMCS

Foi nesses dias em que o calor estava de matar. A menina entrou no ônibus e logo conseguiu sentar. Por sorte, fiquei na frente dela, mas não era preciso estar tão perto, já que ela é daquelas que não fala normalmente, mas praticamente grita. O papo no telefone era a balada da noite anterior e chamou a atenção de todo mundo que estava por ali:

“- E aí, tá passeando de pulôver de veludo no sol? – Perguntou pra pessoa do outro lado da linha. O calor era tanto que só de ouvir causou mais desconforto, como se o sol rachando em cima do busão não fosse suficiente.

– No calor eu não passo mal, eu passo péssimo… Meu, eu tô quase raspando o cabelo e acabou de passar aqui um cara com três vezes mais cabelo que eu.

(Ela tinha um cabelo estiloblackpower, mas curto e realmente passou um cara com o cabelo muito maior que o dela)

Foi aí que o papo emendou de verdade:

– Bati a nave ontem. Tomei umas dez doses de vodca com energético, beijei três meninas. Fazia tempo que eu não curtia assim, sem medo. É porque todas as pessoas que eu conheço são amigos do Fulano e enquanto eu tava com ele, não podia curtir como eu queria. Tenho que rever minhas amizades…

– Até encontrei uma querida minha que fazia tempo que não via. Ela falou que eu tava muito seca. Eu só pensei ‘pena que eu não posso dizer o mesmo, querida’. A perna dela tá dando duas da minha! Já dei uns pegas nela antes, mas agora não dá. Ela tá um jaburu, sem condições.

– E tava muito massa a festa. Acho que a pira ainda não passou. Tava tocando música da minha época. Imagina a pessoa na festa, sem noção, cantando.”

E, sem noção, no ônibus, começou a cantar Ivete Sangalo…

Leitura de busão: 50 Tons de Liberdade. Autor: Erika Leonard James (Romance).