Malícia pouca é bobagem

Tribuna | 08 de abril de 2015 | Foto: Brunno Covello/SMCS

Quando as quatro mulheres entraram no busão, já deu pra perceber que elas iam causar. Com todo pique às 23h, elas agitaram a viagem. Já começou no embarque no ligeirinho Santa Cândida – Pinheirinho, com pedidos de espera para o “motôra” e agradecimentos por terem conseguido entrar. E como estava todo mundo apertado, deu pra ouvir o papo em detalhes.

Primeiro foi o relato sobre a cunhada sem noção de uma delas. “Olha o tipo da guria, perguntando se eu tava cuidando bem do meu marido (irmão dela), porque ele tava abatido. Aí eu respondi: Tô cuidando muito bem, e como…”, contou ela, causando risos nas colegas. E já emendou a cereja do bolo: “Eu gosto é de dar chave de coxa. Acho muito gostoso e é por isso que ele tá tão abatido.”

Depois das gargalhadas – que de minha parte foi uma risada discreta pra não levantar suspeitas – o assunto passou para a aula do dia. A mesma da chave de coxa estava conversando com um colega em libras e contou que cometeu uma gafe daquelas. Ao invés de usar os gestos corretos para as letras, ela mandou o cara praquele lugar, quando na verdade precisava indicar uma linha de ônibus que tinha a letra “d” no nome. “Por isso ele ficou espantado. Ele achou que eu tava mandando ele fazer outra coisa”, disse.

Aos risos, a amiga definiu a situação muito bem: “Você não vale um vintém”.

 

O dilema da escala
Volta e meia escuto reclamações sobre as escalas de trabalho de motoristas e cobradores. Especialmente nos finais de semana, que o povo todo quer fugir de algumas linhas em alguns horários. E a lamentação da cobradora pro motorista não foi diferente:
“Vai ser sacanagem se ele (acho que o chefe) me botar pra trabalhar no domingo de noite. Faz cinco meses que eu tô na empresa, trabalho direitinho, não falto e a pessoa vem e me sacaneia? Já trabalhei doente, com atestado me liberando, mas não entreguei pra empresa. Mas dessa vez não vou trabalhar e vou ter que dar atestado mesmo se não estiver doente”.

A reclamação continuou, já pensando em formas de escapar da escala. “Domingo de tarde eu trabalho numa boa, mas de noite eu já avisei que não dá porque não tenho como voltar pra casa. Imagina ficar até 00h40 fazendo o Vila Verde?”

– Ainda mais que lá é perigoso. Faz o seguinte, leva um caixa de cerveja gelada pra ele. Vai que assim ele faz a escala direito. – Sugeriu o motorista.

– Será que vou ter que fazer outra coisa pra conseguir a escala? – Retrucou a menina, abrindo margem para interpretações maldosas.

 

http://www.parana-online.com.br/colunistas/papo-de-busao/108637/MALICIA+POUCA+E+BOBAGEM