O bebum

Tribuna | 22 de outubro de 2012 | Foto: Brunno Covello/SMCS

O cheiro de cachaça toma conta de todo o ônibus assim que o homem embarca. Ao mesmo tempo também começam as divagações em alto e bom som:

– Eu pesava 85 quilos, agora tenho 67 no máximo. Já ganhei na quadra da Mega-Sena, mas o problema é que eu bebo.

Ele fala como se estivesse conversando com um amigo imaginário, já que ninguém deu abertura pra conversa. E como se os pensamentos em voz alta do homem já não chamassem a atenção, todo o ônibus percebeu que ele estava ali na hora de descer. O bebum tocou a campainha, mas o motorista passou do ponto. Aí ele começou a gritar:

– Vai desceeeeer, perdeu o pontoooo. Vai homem!

Uma mulher se vira para ver o que estava acontecendo e ele diz pra passageira:

– Você não, você não é o homem ali da frente, você é “muié”.

O motorista, irredutível, só parou no ponto seguinte.

– “Vixe onde ele foi parar…” -, resmungou o bebum, que seguiu pela rua sabe-se lá pra onde. Depois que ele desceu, o silêncio tomou conta do ônibus e o cheiro de cachaça ainda demorou mais um pouquinho pra desaparecer.

 

O bicho pegou…

… mas eu não consegui descobrir o que estava acontecendo porque não escutei quase nada da conversa. Mesmo assim quis dividir minha frustração com os leitores. O cara estava na minha frente, mas falava tão baixo no celular que não deu pra escutar absolutamente nada. Só quando o ônibus parou no ponto e o motor deu uma acalmada eu consegui ouvir as frases: “A bomba estourou hoje” e “Já falei com ela umas quinhentas vezes”. Pela expressão do rapaz, o negócio era sério. Aposto que era uma baita história e por isso tentei de todo jeito ouvir a conversa, só faltou levantar e ficar cara a cara com ele…

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