Meninos dos olhos

Tribuna | 20 de agosto de 2012 | Foto: Marco Lima

Mesmo com pouco mais de um metro e meio de altura, o pequeno Kesley Veríssimo Prado de Oliveira, 6, possui uma grande responsabilidade. Filho de pais cegos, desde os três anos de idade ele os ajuda com a orientação pelas ruas de Curitiba. Uma das primeiras coisas que o menino e o irmão aprenderam foi o que significam as cores do semáforo e mesmo no colo dos pais os dois já indicavam os cruzamentos e buracos por onde passavam. Hoje o garoto sabe de cor o caminho até sua casa, bem como se virar pelas ruas. “Acho importante ajudar minha mãe”, diz.

A mãe dos meninos, Luzia Prado de Oliveira, 35, tem uma explicação para a desenvoltura dos filhos. “Eu digo que filho de cego é mais espero de que filho de quem enxerga porque aprende desde cedo a se virar e a ajudar”, explica. Mas para por aí a tarefa dos irmãos para ajudar os pais a superar a deficiência. O casal não deixa de sair porque está sem os filhos, principalmente no São Braz, onde moram e dispensam a bengala para caminhar pela redondeza. O marido trabalha em duas escolas como contador de histórias enquanto Luzia comanda todas as tarefas domésticas. “Há um tempo vi uma novela que tinha um homem cego e pensei: homem é mais fácil. Porque não mostram uma mulher cega, que lava, passa, cozinha e cuida das crianças?”, brinca.

Luzia perdeu a visão aos seis anos depois de sofrer com um glaucoma ocasionado por toxoplasmose. Ela conheceu o marido no Instituto Paranaense de Cegos, onde disse ter descoberto que cegos também podiam estudar. “Estudei até o Ensino Médio e não fiz faculdade. Logo tive filhos e a prioridade são eles”, diz. Luzia então optou por cursos técnicos e hoje trabalha em casa como massoterapeuta.

A independência de Luzia resultou também em algumas situações inusitadas pelas ruas de Curitiba. Além do preconceito que enfrenta, especialmente para encontrar emprego, ela conta que é difícil enfrentar os buracos, postes e telefones públicos que ficam no meio da calçada. Assim, já caiu em buracos, escorregou no piche de asfalto e até foi atropelada por carrinheiros. Nada demais para quem já superou a falta da visão.

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