Pra vida toda!

Tribuna | 28 de março de 2014 | Foto: Marco Lima

Um caminho estreito entre várias casas localizadas em um grande terreno no Boqueirão leva o médico da família Silvio Miranda, 56, até uma de suas pacientes com mais idade. Maria Mendes Faria tem 94 anos e ultimamente não consegue mais sair de casa para ir até a Unidade de Saúde Irmã Tereza Araújo, a primeira da região, onde Silvio atende pela prefeitura.

Já conhecendo bem o caminho, doutor Silvio chega rapidamente à última casinha do terreno onde Maria mora com o restante da família. O encontro é como o de dois amigos que se encontram com frequência e logo o médico quer saber como andam as coisas. Sem cerimônia e muito lúcida, Maria começa a contar como esteve se sentindo nos últimos dias e a conversa se estende por toda a consulta.

A intimidade entre os dois vem dos mais de 30 anos da relação entre médico e paciente, que evoluiu para uma amizade. Além de Maria, a lista de amigos que o médico fez em mais de três décadas no bairro é extensa. São mais de mil famílias, quatro afilhados e inúmeras histórias para contar.

Tudo começou em 1979, quando o então estudante do quarto ano de Medicina chegou no bairro (que ainda não tinha posto de saúde) para um estágio com foco na redução dos casos de mortalidade infantil. O objetivo inicial de Silvio era se formar e partir para o estado de Roraima, onde participaria de um projeto com os índios Macuxi, mas o envolvimento com a comunidade na época bastante carente o cativou. A relação ficou tão forte que o doutor se mudou para o bairro, que ajudou a desenvolver junto com a associação de moradores, e não pretende sair dali.

“Já atendi cinco gerações da mesma família. Conheço todo mundo e todo mundo me conhece”, conta o médico, que acredita que a proximidade com os moradores fortalece a relação baseada na confiança. “Até pacientes de médicos do convênio me perguntam se devem mesmo tomar o remédio que foi receitado. Tem gente que mesmo com plano de saúde vem se consultar comigo na unidade”, diz. Ele conta ainda que antes da criação da unidade de saúde 24 horas, era comum que pacientes fossem até sua casa durante a noite para consultas de emergência. “Nunca cobrei por uma consulta. No bairro o problema de uma pessoa é problema de todos”.

E do que depender de Sílvio, esta relação deve permanecer por muito tempo e se estender a outras regiões. Além dele, sua esposa Maria da Graça também é médica da família e cativou seus pacientes. O médico ainda acompanha os residentes e reforça a necessidade do vínculo com a comunidade. “Um dos princípios do médico da família é ser uma espécie de advogado dos pacientes, é defender o paciente. E não é só entregar a receita, mas acompanhar. Isso para a cidade é muito importante. Se todas as unidades funcionassem assim, teríamos uma cidade muito mais sadia”, garante.

 

Orgulho de cuidar das ruas
Ivo Graci, 53, não é curitibano de nascença, mas o seu trabalho é fazer com que a cidade que ele tanto gosta fique mais limpa e bonita para quem anda por suas ruas. Por isso ele tem orgulho da profissão de gari, que exerce há 11 anos. “Cuidar da cidade é bom. Me considero um curitibano”, diz ele, que mora na Fazenda Rio Grande, na Região Metropolitana, e já cuidou da Rua XV de Novembro, da Avenida Sete de Setembro, da Praça 19 de Dezembro. Há cinco anos e meio está na Praça Tiradentes.

O orgulho é tanto que Ivo conta ter fotos suas durante o trabalho enfeitando a casa. E mesmo com a proximidade da aposentadoria, ele não pensa em parar de varrer as ruas da cidade. “Se eu contar tudo que já vi na rua dava um livro. Tem de tudo: história boa e ruim. Conheço bem o centro”, afirma.

Dois foram os fatos mais marcantes. O primeiro aconteceu há tempos, quando ele viu uma pessoa caindo do alto de um prédio na Rua São Francisco, também no centro da cidade. A lembrança boa foi o presente que ganhou de uma turista que o presenteou com passagens para a Linha Turismo, que ele ainda não tinha embarcado. E entre tantos pontos turísticos ele elege o seu preferido em Curitiba: o Parque Tanguá. “É muito lindo. Aquela queda d’água é maravilhosa”.

 

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