Rei do fusca

Tribuna | 20 de novembro de 2014 | Foto: Ciciro Back

A oficina mecânica no número 710 da Rua Dante Angelote, no Bairro Alto, guarda muito mais do que carcaças de carros. Ali são encontradas relíquias, sejam elas materiais como em forma de conhecimento. É neste local que o mecânico Levi Gomes, 70, trabalha em Curitiba desde 1979 com sua especialidade: o conserto dos tradicionais Fuscas.

Além das peças que guarda, o serviço de conserto realizado por Levi também é uma raridade. Prova disso são os clientes que o procuram de toda parte do Brasil até mesmo indicados por grandes autopeças que não possuem um estoque tão robusto quanto o do mecânico. “Eu não dou conta de tanto pedido. Atendo muita gente, mas nem sempre consigo fazer porque trabalho sozinho”, diz ele, que se dedica durante mais de 10 horas por dia. Alguns clientes, inclusive, são de outros países da América Latina, que aproveitaram a vinda para a Copa do Mundo na capital paranaense e compraram peças para seus carros.
Levi conta que os anos 1990 foram o auge do seu trabalho, quando muitos Fuscas circulavam por todo o país. Passado o período de “queda no movimento”, a procura aumentou depois que o veículo virou relíquia e ele se tornou um dos poucos especialistas no assunto a continuar no mercado.

Na mecânica estão mais de 20 carros das décadas de 1960 e 1970, que também são cobiçados por compradores. Entre as peças estão volantes, paralamas – em especial um de 1960 – e faróis como o modelo olho de sapo, também dos anos 1960, e que custam R$ 300. “Quanto mais antigo, melhor, tem mais valor”, garante o mecânico.

 

Inseparáveis
O trabalho de Levi na mecânica começou em 1959, mesmo ano em que o Fusca passou a ser produzido no Brasil. O primeiro contato, quando o então adolescente era apenas aprendiz de mecânico no interior do estado, foi na limpeza dos Fuscas. “Era novidade. Eu ficava limpando e pensava que jamais ia entrar num carro daquele, dizia que parecia uma caixinha de fósforo, de tão pequeno”, lembra.

O encontro, porém, se tornou uma paixão que o acompanhou durante toda a vida. “Não gosto de outro carro. Só trabalho com Fusca e só dirijo Fusca. Posso dirigir de olho fechado, de tanto que conheço. E espero parar só quando morrer, é um amigo inseparável”, revela. Para Levi, o que o conquistou foi a simplicidade no conserto e na direção. “É um carro simples, fácil de regular, os bancos se encaixam nas pessoas”, opina.

Assim como ele, o Fusca é a paixão de vários outros brasileiros. “A pessoa tem o carrão, mas também tem o Fusca pra dirigir. É um carro de hobby que se tornou uma raridade. Quem nunca teve, sempre sonhou em ter um”.

 

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