Perdidos no bonde

Tribuna | 1º de outubro de 2014 | Foto: Brunno Covello/SMCS

Não precisa ser de fora de Curitiba. Muita gente se perde no nosso sistema de transporte coletivo e, para nossa sorte, acaba vindo parar aqui na coluna. Desta vez quem observou a movimentação que chama a atenção de todos os passageiros foi o colaborador (e chefe) Olavo Pesch:

“Embarca gente de todo tipo no busão. Altos e baixos, gordos e magros, pacatos e estressados… Interessante observar o comportamento e as reações das pessoas dentro do transporte coletivo. Dias atrás, na linha Curitiba-São José, entraram duas senhoras bem arrumadas e maquiadas, como se estivessem indo para algum evento importante. Não sei se era um bingo, um chá da tarde ou outro tipo de programa. Só sei que as duas não desgrudavam o olho da janela.

Uma delas se acomodou no banco e a outra ficou de pé, ao lado. Tinha um banco vago no fundo do ônibus, mas mesmo assim ela não sentou. Perguntei se queria sentar no meu lugar, que era mais no meio do ônibus, mas recusou, dizendo que logo iria descer. Só que o motorista saiu da cidade metropolitana, passou o Parque da Imigração Japonesa, no Uberaba, andou mais um pouco e nada de apertarem a campainha. Até que lá pelas tantas a que estava sentada se levanta e as duas ficam em frente à porta traseira do veículo, sempre de olho na janela para não perder o ponto onde precisavam descer.

– Tá perto? – diz uma.

– Acho que sim! – responde a outra.

Aí a que antes estava sentada aperta a campainha. O motorista para o coletivo e abre as portas para as duas desembarcarem, pois ninguém mais iria descer naquele lugar. Uma das senhoras olha bem para fora e, não reconhecendo o lugar, pede desculpas ao motorista e desiste de saltar. Mas antes de chegar o próximo ponto, ela aciona a campainha novamente. A cena se repete: o motorista abre as portas e ninguém desce. A senhora dá uma boa olhada e também não sente firmeza em desembarcar.

– Não é esse também, motorista. Estamos perdidas! – admite.

Perto da próxima parada, pela terceira vez a mulher aperta o botão. As portas são abertas, as duas amigas dão aquela espiada para se situar onde estão e (finalmente) acabam descendo. Ainda sem muita certeza de que era a parada correta, mas mais para garantir que não cometeriam nova gafe.

 

Outras
Não foi a primeira vez que presenciei uma situação dessas. Aliás, na mesma semana, no tubo do terminal Boqueirão entrou um rapaz no Ligeirinho Barreirinha-São José, sentido Centro. A porta se fecha e ele me diz que quer ir no Shopping Palladium e o orientaram a descer no terceiro ponto.

– Terceiro ponto? – perguntei.

– É!

– Acho que não. Esse aqui vai pro Guadalupe, no Centro, não para perto do Palladium. Acho que era outro ônibus. No tubo passa também o Sítio Cercado. Será que não era esse?

Ele não fala mais nada pra mim e, no tubo do terminal do Carmo, desce. Espero que tenha achado o caminho do shopping.”

 

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