Trabalho ostentação

Tribuna | 19 de março de 2014 | Foto: Brunno Covello/SMCS

A colaboração de hoje é do chefe Miguel Andrade, que viu no busão um exemplo vivo do trabalhador que gosta da profissão (ou pelo menos finge). Porque não basta gostar do que faz, tem que ostentar e quem sabe assim conquistar uma passageira bonitona!

“Quando a redação da Tribuna ainda era nas Mercês, presenciei um diálogo improvável na linha Mercês-Guanabara no final da tarde. Estava na parte traseira do ônibus, a fim de não atrapalhar o ir e vir dos passageiros. Nisso apareceu uma mulher aparentando trinta e poucos anos, bonita e que se vestia de maneira sóbria.

Ela ficou em pé e um senhor que estava num banco próximo se ofereceu para segurar a sua valise. Pouco depois, o lugar ao lado do homem vagou e a mulher se sentou e logo foi puxando conversa com o cidadão. Muito educada, ela disse que sempre o via na linha Mercês-Guanabara, perguntando se ele morava na região. E homem não se fez de rogado: “Faz 45 anos que moro aqui”.

E a conversa evoluiu para o trabalho e lá veio o cidadão implacável: “Faz 25 anos que estou no serviço público”, disse declarando trabalhar numa estatal do ramo da agricultura.

Sempre educada, a moça perguntou se ele gostava do trabalho. O homem respondeu que estava sossegado na vida e já emendou que há décadas não sabia o que era um “aperto” no orçamento e outros tantos anos que havia saído da fila do desemprego. Enfim, a conversa virou um mar de estatísticas.

E ela respondia com interjeições do tipo “Ahã!”, e outras exclamações contidas, sinal inequívoco de que todos os seus radares femininos estavam esquadrinhando o sujeito de cima a baixo e, consequentemente, definindo a sua sorte.

E o homem nem aí com a torcida: “Faz 25 anos que não sei o que é trabalhar no sábado e faz 20 anos que vou pescar todo sábado…”

Tive que descer do busão e não vi o desfecho, mas pelo jeito fazia um bom tempo que aquele cidadão não sabia o que era flertar com uma mulher.”

 

Cobrador atento, só que não…
Sentada em frente ao cobrador dia desses, não teve como não perceber a atenção que ele dava ao bate papo frenético no celular. Nem piscava. Olhar para os lados então, muito menos. Azar foi o da senhorinha que estava bem perdida, sem saber onde deveria descer. De tão humilde que era, tadinha, não sabia falar direito o nome do ponto de referência que procurava: Sesi, pra ela, era Cesar…

 

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