Cobrador gente boa!

Tribuna | 12 de março de 2014 | Foto: Brunno Covello/SMCS

Na semana retrasada teve greve de ônibus, que emendou com o Carnaval e nem deu tempo de contar a história de busão que o colega de redação Adriano Naressi acompanhou durante a paralisação dos motoristas e cobradores. Enquanto esperava um demorado biarticulado Pinheirinho-Rui Barbosa, ele acompanhou o desempenho de um cobrador bem observador e que, com o “troca troca” entre os trabalhadores durante os dias parados, acabou parando no tubo Vital Brasil, no Água Verde.

Para cada passageiro que entrava ele tinha uma observação a fazer. Foi assim pra a moça com o celular no bolso. “Assim fica fácil de pegarem”, alertou. E também pra a passageira com a bolsa aberta. “Essa bolsa é aberta assim mesmo?”, perguntou ao mesmo tempo em que a mulher percebeu que tinha esquecido o zíper aberto. “Eu que esqueci de fechar”, explicou ela.

Quando uma grávida entrou no tubo ele apenas apontou para o barrigão dela e em seguida perguntou. “Quantos meses?”. “Oito”, respondeu a futura mamãe. Em seguida ele começou a perguntar sobre a altura dos familiares; marido, pais e sogros. Pela resposta da moça ele logo decretou. “Então seu filho vai ser baixinho mesmo”.

Mas como dizem, quem vê cara não vê coração. Apesar de se mostrar uma pessoa de alto astral, o cobrador deixou escapar uma história de vida sofrida. Com seus 1,90 m de altura, ele começou contando que “quase matou” a mãe no parto, já que era grande desde pequeno. Mas perguntado sobre como estava sua mãe, ele respondeu. “Não sei mais. Não vou dar bola pra quem me abandonou num orfanato”, desabafou. A relação com o pai também não era nada fácil. “Eu dava bola pro meu pai até ele tentar me matar. Mas há três anos eu que fiz o enterro dele. Ele morreu de Aids”.

O papo sério durou pouco. Rapidamente ele pegou o telefone para saber o paradeiro do biarticulado que ainda demorava a chegar. “E aí, tem Pinheirinho ou não?”, questionou a empresa de ônibus. Assim, a vida continuou…

 

Seguindo o fluxo
Colaboradora assídua da coluna, a leitora Vanessa de Andrade mandou uma frase de sua diarista, que representa bem como é a vida de quem depende do busão logo no começo do dia:

“O terminal tava tão socado de gente, que quando apareceu o ônibus, eu nem tava afim de “pega ele”, mas fui obrigada porque me empurraram pra dentro do ônibus…”

 

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