Levando a vida

Tribuna | 14 de janeiro de 2014 | Foto: Gerson Klaina

Não é de hoje que João Batista, 57, faz sucesso na Rua XV de Novembro, Centro de Curitiba. Trabalhando no local há quase 40 anos, ele continua chamando atenção de quem passa por ali ao simular que está batendo em um gato escondido em um saco, dentro de uma caixa. Mas além do barulho criado por uma engenhoca que ele mesmo monta, a história do vendedor mostra como a criatividade permite encontrar maneiras de levar a vida. Outro exemplo vem de Matinhos, no Litoral, onde a artesã Terezinha de Jesus Pereira, 67, chama atenção de moradores e veranistas com os trabalhos feitos com conchas e que contribuem para o sustento da família.

É quase impossível ficar indiferente ao som que imita o miado e o gemido de um gato fictício (que na verdade é de pelúcia) apanhando. Rapidamente uma roda se forma ao redor de Batista, que faz sua apresentação e aproveita para oferecer o apito, feito de bambu. “É bom assustar e depois ver o sorriso das pessoas, o povo dando risada”, brinca. Ele conta que o gato o levou a apresentações pela América Latina, no Peru, no México e na Argentina.

Mas nem sempre tudo é levado na esportiva. Mais de uma vez, ele e o amigo Robson José Martins Camargo, 33, que vende guarda-chuvas e nas horas vagas acompanha Batista, foram ameaçados de apanhar por causa da agressão ao animal. “É só começar a fazer que o povo para pra ver e às vezes acham que estamos judiando de verdade de um animal”, diz o amigo. O susto também traz reações inusitadas, como a senhora que bateu em Batista com uma bolsa “muito pesada”.

A ideia veio após uma temporada em São Paulo, onde foi procurar emprego para sustentar os quatro filhos pequenos. “Não ia deixar os filhos passarem fome”, lembra. Atualmente, cada apito é vendido a R$ 5 (ele faz três apitos de gato por R$ 10) e hoje garante o sustento da família, sem contar o eventual prejuízo por engolir os apitos. Quando o movimento fica fraco, o vendedor atua como pedreiro. “O tempo passa e a gente nem vê”, afirma, referindo-se ao tempo que faz a brincadeira do gato no centro da cidade.

 
Artesanato com conchinhas
A porta discreta, próxima ao Mercado Municipal do Peixe, em Matinhos, poderia facilmente passar despercebida por quem passa por ali, como se fosse uma loja de artesanato comum do Litoral. Mas um olhar mais atento revela a principal característica do espaço, ocupado quase que exclusivamente por artesanato feito com conchas.

A responsável por toda a produção é Terezinha de Jesus Pereira, 67, que faz as peças no fundo do estabelecimento e há três anos investiu pesado no que antes era apenas um hobby. “Comecei por esporte, só mandava para os parentes”, conta ela, que nunca fez um curso sobre a técnica. A família, que já morou no interior do Estado, se mudou há 21 anos para o Litoral por recomendação médica, para melhorar a saúde dos filhos. Atualmente, o artesanato tem peso significativo na renda para sustentar o casal, o filho com problemas de saúde e duas netas.

A matéria-prima vem das caminhadas que ela faz com o marido pela praia e também da compra das conchas de outras pessoas que recolhem o material, e em pouco mais de vinte minutos se transformam em formas diferentes, como sapos, elefantes, pássaros, corujas, tartarugas, barcos, bonecas e até oratórios, com imagens religiosas. “O pessoal gosta mais dos cachorros e dos barquinhos”, diz.

 

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