Chance de recomeçar

Tribuna | 25 de julho de 2013 | Foto: Allan Costa Pinto

Felizmente, durante as madrugadas frias dos últimos dias – entre elas a mais gelada do ano – Curitiba não registrou nenhuma morte de morador de rua por frio. O índice, porém, poderia ser diferente caso as equipes da Fundação de Ação Social (FAS) não intensificassem suas abordagens a quem dorme ao relento e também se a população não tivesse se mostrado solidária a quem não tem onde morar. Na madrugada de ontem, pelo menos sete pessoas foram resgatadas com quadro de hipotermia pelas equipes da prefeitura e encaminhadas a atendimento médico.

Além da busca ativa e das solicitações da comunidade pelo Serviço 156, os próprios moradores de rua também têm acesso ao serviço pela busca espontânea, onde se dirigem diretamente às sete unidades que oferecem pernoite, banho e alimentação. Com as baixas temperaturas desta semana, o município colocou em prática um plano emergencial para ampliar o atendimento e oferece agora cerca de mil vagas, que não foram totalmente preenchidas. A estimativa é que quatro mil pessoas compõem a população de rua em Curitiba.

“Ainda temos sobra de vagas. Precisamos trabalhar mais a sensibilização de algumas pessoas que não aceitam nossa oferta”, avalia a coordenadora da central de resgates, Sueli Galvão Cortiano.

Mesmo com as vagas ainda não preenchidas por completo, ela destaca a mobilização da comunidade nas últimas noites geladas. Na segunda-feira foram 238 solicitações de resgate, número que passou para 370 no dia seguinte. “É um ponto favorável e muito importante para o apoio aos moradores de rua”, considera.

Oportunidades
Enquanto utilizam os espaços da FAS, os usuários também têm acesso a atendimento médico e cursos de alfabetização e profissionalizantes. A participação é opcional, mas quem escolhe pelas atividades faz isso com o objetivo de realizar alguns sonhos que foram adiados durante a vida na rua.

Atencioso na leitura das sílabas escritas no quadro, José Nicolau, 58, estuda para conseguir ainda mais independência. Ele, que nasceu em Guarapuava e morava nas ruas do Santa Quitéria, diz que quer “aprender mais um pouco para andar na cidade mais tranquilo, sem pedir nada para os outros”. Já Ivo Antônio Machado, 52, aproveita a oportunidade para recuperar a casa que perdeu. “Estou quase terminando o ensino fundamental e quero procurar serviço”, conta.

Cleolecir Luiza Dias do Amaral, 38, já tem até data para conquistar seu sonho. “Com 45 anos vou estar formada. Quero fazer Direito”. Na rua desde os 11 anos de idade, afirma que o apoio que recebeu dos educadores e agentes foi fundamental para superar a dependência em drogas. “Estava no fundo do poço e se não fosse pelo pessoal, hoje eu estaria morta”.

 

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