Guardador de relíquias

Tribuna | 10 de setembro de 2012 | Foto: Allan Costa Pinto

Onze carroças abrigadas na chácara do empresário Armando Tulio, 67, localizada próxima ao centro de Santa Felicidade, guardam partes importantes da história da colonização do bairro e da cidade. O acervo já foi maior e chegou a 40 veículos, sendo o mais antigo de 1889, junto com outros que foram utilizados pelos colonos até meados da década de 1960.

A maioria das carroças foi vendida, mas isso não significa que a frota deixe de aumentar. Isto porque Tulio não resiste quando encontra uma carroça que está se deteriorando, em mau estado de conservação, o que vem se tornando comum entre famílias que deixaram de cuidar dos veículos utilizados por seus antepassados. O empresário chega a comprar as carroças e as leva para sua chácara, onde ele próprio faz todo o serviço de restauração. Assim, possui veículos raros de duas rodas, no estilo utilizado pelos colonos ainda na Itália, e também os modelos eslavos, com quatro rodas.

O interesse pelas relíquias começou quando Tulio acompanhava seu pai nas visitas aos colonos e ao observar a criação dos veículos ao lado de sua casa. “Naquele tempo não existia carro e as carroças eram o principal meio de transporte”, lembra. Os modelos variavam de acordo com a utilidade, como as carroças usadas para o trabalho na lavoura ou para o transporte de mantimentos – como carnes, ovos e leite -, e também as mais requintadas, que iam às ruas nos finais de semana, especialmente para levar as famílias à missa.

 

Histórica
Entre as muitas carroças que já passaram pela chácara de Tulio, uma tem um significado especial. A trole de 1889 foi utilizada assim que o colono Camilo Perussi chegou na região de Curitiba. Diz a história que ele também a utilizou para ir de Santa Felicidade ao centro da capital, de onde seguiu a pé até Santos, no litoral paulista, em viagem que durou um mês. Lá ele embarcou rumo à Itália, onde quitou uma dívida feita 20 anos antes, quando se mudou para o Brasil.

 

Mais memórias
Não são apenas com as carroças centenárias que Armando Tulio resgata a história. Além de usar algumas carroças no trabalho da chácara, ele também investe em objetos antigos, espalhados pela sua propriedade, como galão de querosene, arados e um debulhador de milho.

Mas não para por aí. O empresário também recolhe objetos históricos que são descartados. Com isso montou a decoração de sua casa e de uma pequena capela. “É parte da nossa história. Fui guardando tudo que vai desaparecer com o tempo. Sou muito saudosista e dói ver as coisas sendo jogadas fora”.

 

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