Descobertas da Baía de Paranaguá

Traduzido para o português, o raro livro Bai Von Paranaguá revela as experiências de um botânico alemão em águas paranaenses

Gazeta do Povo | 30 de setembro de 2011 | Foto: Valterci Santos / Gazeta do Povo

“Uma ilha linda. Situada no meio da baía cercada por montanhas cobertas, para onde se olhe, pela floresta; nenhuma rocha despida nem escarpas. Semeando uma paz maravilhosa (…) Na luz matinal, apareciam montanhas lateralmente batidas de sol. O marulhar das ondas, o sibilar do vento na copa das palmeiras, o chilrear dos grilos, o canto nunca ouvido de pássaros e outros ruídos ainda desconhecidos soavam nos meus ouvidos”.

Esta foi a primeira impressão que o botânico alemão Julius Platzmann teve ao chegar ao litoral paranaense, em 1858. Mais de 150 anos depois, suas experiências sobre a baía parnanguara, que foram relatadas em inúmeras cartas enviadas aos pais que permaneceram na Alemanha, foram divulgadas na tradução do raro livro Bai Von Paranaguá (Da baía de Paranaguá).

O responsável por traduzir a obra de Platzmann foi o escritor paranaense Francisco Lothar Paulo Lange, que, depois da empreitada, se considera amigo do autor. Aos 89 anos, o tradutor fez questão de visitar todos os pontos explorados pelo botânico, além de animar as viagens com cataia (cachaça típica da região), assim como fez o explorador, e deixar um dicionário alemão-português aos pedaços após um ano de uso.

A obra traz descrições das paisagens e dos costumes das comunidades caiçaras, que fazem da natureza um estilo de vida. Para Lothar Lange, a característica mais especial da coletânea de Platzmann é o fato dele não ter feito nenhuma comparação dos locais que visitou com sua terra de origem. “Ele foi um cidadão que sentiu e viveu onde esteve e também amou o que viu. Como botânico, ele não procurou apenas árvores e animais, mas também teve contato com as pessoas”, conta.

A relação póstuma com Platz­mannn emociona o tradutor, que confessa ter inveja do estilo de vida no litoral. “As pessoas têm uma ideia muito superficial da Baía de Para­naguá. Lá encontrei tradições que estão preservadas e espero que continue assim.” Entre 1858 e 1864, o botânico remou em canoas de pau, participou de caçadas e pescarias e de conversas em volta da fogueira.

 

Raro
O conhecimento sobre a existência dos originais de Bai Von Paranaguá aconteceu de forma inusitada. O amigo de Lothar Lange, Henrique Paulo Schmidlin, durante uma faxina na Secretaria de Cultura de Paranaguá, encontrou no lixo uma fotocópia escrita em alemão. Eram informações sobre Julius Platz­mann e sua obra, publicada em 1872, na cidade alemã Leipzig.

A busca pela obra completa durou mais de duas décadas e a localização só foi possível por meio do contato direto com fontes na Alemanha. Responsável pelo prefácio da publicação na versão em português, Schmidlin conta que existe em Curitiba um único exemplar do livro, que está guardado “na mais expressiva biblioteca particular paranista”, mas a leitura do material não foi autorizada.

Depois de voltar à Alemanha, Platzmann se dedicou às artes e se envolveu em trabalhos sobre as línguas indianas. Ele morreu em 1902, aos 70 anos de idade. Os temas de seus trabalhos em arte sugerem que, até o fim da vida, se lembrou do momento em que deixava a Baía de Paranaguá, com os olhos cheios de lágrimas, e se perguntando o por quê não ficou em terras paranaenses.

 

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