Haste é solução para alongamento ósseo

Paraná é um dos primeiros estados a desenvolver a nova tecnologia. Procedimento é alternativa ao pino 

Folha de Londrina | 2 de abril de 2009

O Paraná é um dos primeiros estados brasileiros a desenvolver uma nova tecnologia que atende pacientes com problemas ósseos decorrentes de traumas, encurtamentos congênitos ou estéticos. A Haste Intramedular Expansível, também conhecida por ISKD, promove o alongamento ósseo com a realização de procedimentos pouco invasivos e de rápido período de recuperação, mas é indicada apenas para casos específicos.

A ISKD é uma alternativa ao tratamento convencional de alongamento ósseo. Os demais procedimentos utilizam pinos dispostos para fora da perna do paciente, que causam grandes cicatrizes e dores. Criada pela empresa italiana Orthofix, com sede nos Estados Unidos, a tecnologia chegou ao Brasil há mais de um ano e segue todas as determinações da Agência Nacional de Saúde (Anvisa). “As cicatrizes são menores, a reabilitação é mais fácil e não há complicações”, garante o ortopedista Richard Luzzi, do Grupo do Trauma Ortopédico do Hospital Universitário Cajuru (HUC).

A colocação da haste ocorre por um pequeno orifício de aproximadamente 1,5 centímetro. O equipamento é acomodado por dentro do osso e movimentos realizados pelos pacientes -monitorados por meio de leitura de um campo magnético presente no aparelho- ativam o alongamento da haste. O crescimento de cada dispositivo varia entre 50 e 80 milímetros e demora entre 60 e 80 dias. Caso o alongamento necessário seja maior que 8 centímetros, são realizados ciclos de alongamento.

O limite para o alongamento é definido proporcionalmente ao tamanho do tronco e membros do paciente. Os ossos mais comuns para a realização do procedimento são a tíbia e o fêmur.
Luzzi afirma que a recuperação é rápida, em alguns casos os pacientes voltam a caminhar ainda no período pós-operatório. Porém, diferente do que acontece no tratamento convencional, o alongamento da haste é irreversível. “Uma vez alongada, a haste não retrai”, explica. Por isso, a escolha dos pacientes que passam pelo procedimento é muito minuciosa e as indicações muito específicas. Entre os grupos que não devem participar da cirurgia de ISKD são crianças, diabéticos e fumantes.

Cautela e rigor são fundamentais
”Os procedimentos são realizados apenas em casos muito específicos, que se adequam às condições do procedimento. A indicação é muito precisa”, ressalta o ortopedista Richard Luzzi, do Hospital Cajuru. O tratamento exige uma equipe multidisciplinar especializada e comprometimento do paciente, que passa por uma série de avaliações psicológicas.

O valor do procedimento ainda é muito caro. Cada haste custa em torno de R$ 35 mil, o que faz com que muitos planos de saúde não cubram o tratamento. Luzzi afirma, porém, que existe uma intensa divulgação sobre a tecnologia -principalmente na internet a interessados em recuperação estética-, sem a preocupação com a seleção dos pacientes. ”A cirurgia não pode ser realizada de qualquer maneira, tem que ter controle”, critica.

Desde a implantação no País, cinco locais realizaram a nova técnica. Pelo Sistema Único de Saúde (SUS) foram apenas duas cirurgias de colocação da haste. O Hospital Cajuru é o segundo local com maior número de realização de cirurgias, até agora foram seis pacientes que utilizaram a ISKD, entre eles a adolescente Fernanda Ronkoski, 14 anos, atendida pelo SUS.

Um acidente de carro aos 4 anos de idade causou em Fernanda uma lesão na cartilagem que promove o crescimento ósseo da perna esquerda. Durante dez anos, a garota passou por diversos tratamentos, entre eles, uma cirurgia para a colocação do pino externo e outra para desentortar a perna.

A solução de seu problema veio apenas há um ano, quando se submeteu à cirurgia de colocação da haste. Ela conta que a técnica causa menos dor em relação às que se submeteu anteriormente. ”Agora estou 100% e muito feliz. Antes doía, mas nessa (cirurgia) doeu um pouco, mas era uma dor que dá para aguentar tranquila”, afirma animada.

Entre os novos planos da adolescente, está o de voltar imediatamente à escola. A recuperação de sua perna acaba com um outro problema que sofreu durante a infância, o preconceito. ”Ela tinha muita dificuldade em fazer amizade. Todo dia que chegava na escola, ela me esperava chorando no portão”, lembra a mãe, Rosilene, falando das brincadeiras que Fernanda era alvo na escola.