Pesadelo na escola

Tribuna | 29 de setembro de 2015 | Foto: Felipe Rosa

“Estou vivendo um pesadelo”. O desabafo da diretora da Escola Estadual Dom Orione, localizada no Santa Quitéria, Maria Ivonete Favarin Vendrametto, representa a situação de muitos outros profissionais e estudantes que na semana passada receberam a notícia de que a escola onde trabalham e estudam pode fechar as portas. O anúncio da Secretaria de Estado de Educação (Seed) pegou todos de surpresa e trouxe ainda mais tumulto pro ano letivo já conturbado, por conta das longas negociações com o governo do Estado.

Além do susto, o sentimento é de desrespeito e dúvidas. A única certeza é que a comunidade escolar fará de tudo pra tentar reverter a decisão e seguir com o cronograma normal de matrículas e rematrículas, previsto pro fim de novembro. As mobilizações contrárias às mudanças começaram logo após a notícia do fechamento das escolas e desde então o governo ainda não divulgou uma explicação definitiva sobre as mudanças nem garantiu se as outras instituições têm estrutura pra receber a nova demanda.

A orientação da Seed foi a escola Dom Orione deixar de abrir matrícula pros sextos anos no Ensino Fundamental em 2016, e assim sucessivamente, enquanto os alunos devem procurar outras instituições da região. “Simplesmente me chamaram e avisaram da cessação. Não disseram como será o remanejamento dos professores e funcionários, nada. Se isso acontecer eu caio fora, eu desisto, estamos muito abalados”, lamenta a diretora, que está há 30 anos na escola.

Maria Ivonete – que comanda 859 alunos, 43 professores, 13 funcionários e uma fila de espera com mais de 300 estudantes – destaca o risco de perder a qualidade da instituição. “É escola de referência no bairro com tantos projetos, premiada. Os alunos saem preparados daqui”, defende.

Rotina prejudicada
No Colégio Estadual Tiradentes, no Centro, a definição foi pela “cessação total e imediata das atividades”. Pro diretor geral Dario Zocche, a situação trará muitos prejuízos aos mais de 600 estudantes, já que a maioria dos alunos concilia as atividades na escola com compromissos como estágio e trabalho. “É um perfil diferente, recebemos alunos de vários bairros e até da Região Metropolitana de Curitiba. Muitos não voltam pra casa depois das aulas”, explica. “Isso pegou todo mundo de surpresa, a comunidade escolar não foi consultada”.

Mobilização
Junto com a direção, o grêmio estudantil começou uma série de ações pra tentar reverter a decisão. Com assinaturas coletadas em um abaixo-assinado, eles irão procurar, entre outras autoridades, o Ministério Público. “Temos que ter o pensamento coletivo nesse momento. É o mais importante”, comenta o presidente interino do grêmio estudantil Liberdade Ainda que Tardia, Victor Matheus Aguiar, 16.

O garoto conta que se surpreendeu com a notícia e a mudança irá prejudicar sua rotina, já que após as aulas ele segue pros treinos de futebol. “Fiquei muito triste com a notícia. Nunca tinha visto uma escola ser fechada. A escola é o único espaço que temos pra tentar ser alguma coisa. E essa é uma escola muito boa”, argumenta. O Colégio Tiradentes é o único da Regional Mat,riz que oferece atividade de contraturno especializada em atendimento a alunos com déficit de aprendizagem.

Como mudar de casa
A possibilidade de uma nova escola pros alunos também não agradou aos pais, que se dizem preocupados com as opções disponíveis, mesmo que localizadas em um raio de 2 km da instituição. “Não colocaria minha filha em outra escola de forma tranquila. Como mãe, sinto que o governo está encarando minha filha como um móvel, um utensílio que pode ser tirado de uma escola de excelência e colocado em qualquer outro lugar pra tapar buraco”, reclama Elisangela Maria Santana dos Santos, mãe de uma aluna da Escola Dom Orione.

A filha de Elisangela, Ana Beatriz, 11, também não aprova a proposta. “Gosto tanto desse lugar. Tenho ótimos professores, eles são exigentes e aqui aprendo muita coisa, é como se fosse a minha casa. Fiquei muito triste que possa fechar”.

http://www.tribunapr.com.br/noticias/parana/ameaca-de-fechamento-deixa-alunos-e-profissionais-com-futuro-incerto/