Sustentabilidade desde a fachada

Projetos garantem conforto e não esquecem o cuidado com o meio ambiente

Gazeta do Povo | 7 de fevereiro de 2010 | Foto: Cris/Divulgação

Se um edifício fosse comparado ao corpo humano, a fa­­­chada da construção seria a nossa pele. É ela que recebe os impactos e faz a transição entre os ambientes internos e externos. Na criação das fachadas, os profissionais levam essa comparação a sério e investem em projetos que se preocupam com o interior das construções, sem esquecer a sustentabilidade.

Para o coordenador de arquitetura da Waa Willer Arquitetos Associados, Boris Madsen Cunha, o conceito de fachada sustentável segue a aplicação de critérios da construção civil. “É pensar o projeto com bom senso, que responda ao contexto climático, econômico e social”, afirma. De acordo com ele, a sustentabilidade das construções leva em conta todo o planejamento do projeto.

“Temos de nos preocupar com as orientações e com as permeabilidades, ou seja, fachadas expostas ao sol devem ser protegidas e as com menor incidência podem ser menos sombreadas. Um sistema de ventilação natural também é muito importante, porque permite o controle de entrada e fluxo de ar”, explica Frederico Cartens, diretor da Realiza Arquitetura e diretor de sustentabilidade da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (Asbea-PR).

Além dessas preocupações, o uso de elementos arquitetônicos como beirais, brises, persianas, toldos, janelas, vidros especiais, telhas e lajes verdes são importantes. O uso de materiais reciclados na construção é um dos critérios para certificações internacionais, como o LEED (Liderança em Ener­­gia e Design para o Meio Ambiente), concedida pela ONG Green Buil­­ding Council (GBC).

É possível fazer adaptações em edifícios já existentes e os investimentos para o conceito sustentável na obra podem se encaixar em diversos orçamentos.

Um exemplo de produto é a Linha Única, da Alcoa, com sistema de esquadrias de alumínio de alto padrão que permite ao arquiteto construir esquadrias com variadas dimensões. O sistema de ruptura de ponte térmica e o envidraçamento interferem diretamente na climatização dos edifícios, impedindo a troca de calor entre os ambientes e melhorando as condições de conforto térmico. Os perfis de alumínio são fabricados com aproximadamente 25% de alumínio reciclado no processo.

Diversos projetos de todo o Brasil investem nas fachadas sustentáveis sejam de grandes ou pequenas construções. O projeto do Edifício Comercial Batel, em Curitiba, possui uma boa solução para ambientes corporativos. O prédio projetado pelo escritório Realiza Arquitetura será construído na Avenida Batel e contará com uma fachada de água captada da chuva, que promove o resfriamento do calor externo e impede que ele entre no ambiente interno, reduzindo em aproximadamente 50% os custos com ar condicionado. O projeto terá células fotovoltaicas, que transformam a luz solar em energia elétrica.

Nos projetos criados pelo Ins­­tituto Centro de Referência Inte­­­gração Sustentabilidade e Pesquisa (Cris), o uso de janelas, telhados verdes e fachadas em vidro impedem a perda de calor para o am­­biente externo e facilitam a entrada de luz solar. O investimento em fachadas acarreta uma série de benefícios para os frequentadores dos espaços e para o meio ambiente. O arquiteto do Cris, Marcelo Todescan, destaca quatro elementos, que chama de pilares da sustentabilidade na arquitetura, e que devem ser levados em consideração no momento da criação de projetos: os aspectos ecológicos, sociais, econômicos e culturais. “Precisamos verificar o uso dos materiais, os impactos nas relações sociais, nas relações éticas das empresas e a criação artística”, afirma.

Pontos Positivos
Confira algumas das vantagens que as fachadas sustentáveis podem trazer:

– Redução do consumo de energia elétrica para iluminação e climatização dos espaços. Esta diminuição dos custos compensa o investimento realizado para a aquisição dos materiais sustentáveis.
– Uso de materiais com o ciclo de vida sustentável, ou seja, com mínimo impacto ao meio ambiente e possibilidade de reutilização dos produtos. Vale pesquisar os meios de produção dos materiais, a vida útil e as possibilidades de reciclagem.
– Valorização da cultura e da sociedade. Os projetos de fachadas expressam o contexto cultural de onde são criados. Além disso, produtos sustentáveis incentivam iniciativas locais e valorizam as comunidades.

Dicas 
A sustentabilidade de uma fachada leva em consideração o contexto da construção. Projetos executados na Região Sul, por exemplo, são diferentes dos edifícios da Região Nordeste. Por isso, os arquitetos entrevistados dão algumas dicas que podem contribuir para que sua fachada em Curitiba seja sustentável:

– Direcione os ambientes de longa permanência para o lado norte. Esta medida garante conforto térmico ao longo do ano devido à incidência solar. Já os ambientes de baixa permanência podem ser direcionados ao lado sul.
– Evite grandes aberturas direcionadas ao lado sul, pois janelas voltadas a este lado facilitam a perda do calor do ambiente.
– Evite também janelas direcionadas aos lados leste e oeste, referentes aos pontos de nascer e pôr do sol. Nestes lados a incidência do sol é direta quando ele está na linha do horizonte, chega ao ângulo de 90 graus nos ambientes, o que aumenta a temperatura no espaço.
– Invista na ventilação cruzada, ou seja, janelas em lados opostos. Assim, o vento pode passar por todo o ambiente.
– Opte por paredes externas com espessura semelhante a dois tijolos, cerca de 22 centímetros.
– Em residências mais baixas, em que a incidência solar é maior no telhado, prefira o isolamento da cobertura com telhas e lages ou ainda com telhados verdes, que são revestidos por vegetação.
– Vale também a utilização de bandejas de luz nas janelas, exaustores eólicos – que formam correntes de circulação e expulsam o ar quente-, brises verticais e marquises, para evitar o uso excessivo de energia elétrica.
Fonte: Boris Madsen Cunha, Frederico Cartens e Marcelo Todescan

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