Minha primeira crônica!!

Curitiba, capital conhecida pelo exemplar sistema de transporte público, famosa em todo o mundo pelas estações tubo e pelas conexões de linhas em terminais rodoviários. É em um desses terminais de ônibus que começa a minha aventura de todos os dias…

Para alguém como eu, que trabalha com a comunicação e os direitos da infância e da adolescência, uma aventura seria encontrar uma ótima fonte, requisitada por um jornalista para a produção de uma matéria importantíssima, ou como qualquer outro trabalhador comum, conseguir manter o bom humor ao encontrar o chefe neurótico já cedo. Podemos considerar esta situação como encontrá-lo -o chefe que por si só neurótico- logo na chegada ao trabalho ou surpreender-se por ele estar neurótico logo nas primeiras horas do dia. Mas acredito que este e um tema para outra crônica.

Enfim, desabafos a parte, para chegar ao centro da cidade, nada melhor que um ligeirinho. Ônibus tipicamente curitibano, que pára poucas vezes durante o trajeto e, como o próprio nome diz, vai rapidinho rapidinho. Precisaríamos de mais comodidade do que esta? Depende de quantas pessoas têm a mesma idéia que você. E serei sincera: são muitas as pessoas a procura de um lugarzinho no ligeirinho, felizes, sonolentas, animadas, todas a caminho de seus trabalhos.

Terminal do Portão, região sul de Curitiba, 7h50. Estação tubo não muito cheia e lá estou eu a espera do ônibus. Seria eu muito crica por me irritar com a insistência que as pessoas têm em entrar no ônibus antes da descida dos passageiros? Quando tenho a oportunidade de ser a primeira da fila, espero até o ultimo cidadão descer, para desespero dos aflitos que ficam atrás de mim, tentando furar a fila sem sucesso, pois sempre dou um passinho para o lado, impedindo a ultrapassagem dos meus concorrentes. Quando não tenho esta chance, a irritação continua, ao me sentir obrigada a dar uma empurradinha no pessoal que fica tão aliviado em conseguir entrar no ônibus que pára na porta mesmo e esquece que a fila atrás é grande.

O ônibus começa a se movimentar. Será que está todo mundo bem acomodado? Quem me dera!! Até hoje, toda a vez que entro no ligeirinho, lembro de um projeto lei que determina no máximo xx pessoas por metro quadrado dentro do ônibus. Ahhh que sonho! Estamos todos apertadinhos, juntinhos, unidos como irmãos. Pra se segurar é difícil, mas me sinto em vantagem por ser um pouco mais alta que o restante dos meus companheiros. Não é o braço de todo mundo que alcança as barras de ferro mais altas. Mas entre a barra de ferro e eu são milhões de cabeças. Cabeças com cabelos.

Cabelos, na maioria das vezes de mulheres, que se emperequetam todas para ir trabalhar. Cabelos cumpridos, curtos, enrolados, lisos, com chapinha, escova, cremes, soltos, presos. Parece que insistem em ficar encostando em mim. Ai que agonia que me dá. Não ligo se um grupo de senhoras conta em voz alta os problemas com suas filhas adolescentes, que aprontam muito e dão trabalho para suas preocupadas mães. Gosto muito de histórias, adoro ouvir o pessoal contar histórias. E enquanto isso, aqueles fiapos parecem prontos para dar o bote. Me sinto a única pessoa do mundo a me preocupar com isso. Me sinto uma fresca por ficar com vontade de tomar banho quando chego ao trabalho.

Às vezes consigo me mover poucos centímetros para o lado. Mas, como se estivéssemos ensaiado os movimentos, eu e as donas dos cabelos vamos na mesma direção. Será que na época em que tinha cabelos cumpridos causava o mesmo impacto nas pessoas que andavam de ônibus comigo? Mas será que mais alguém se incomoda com isso? Todos parecem tão conformados com o aperto, com o desconforto, com o engarrafamento. Como demora passar por apenas duas ruas, duas vias rápidas, mesmo de ligeirinho.

Finalmente o ônibus chega no “meu tubo”. Um último stress na hora de descer: sempre fica alguém folgadamente parado na porta e não percebe que tem gente querendo descer. E depois aquele arzinho fresco do comecinho da manhã. Encerrada a minha primeira aventura, estou pronta para partir pra próxima, ou pras próximas. Afinal, uma jornalista apaixonada pela temática social tem muito a fazer!