Mantendo viva a criança interior

Tribuna | 04 de outubro de 2013 | Foto: Daniel Derevecki

Primeira infância, infância, pré-adolescência, adolescência, juventude, vida adulta e terceira idade. Engana-se quem pensa que estas etapas da vida passam e encerram conforme o tempo. Todas elas permanecem em cada uma de nós e influenciam no que somos. Por isso, a proximidade do Dia das Crianças – comemorado no dia 12 de outubro – pode ser um bom momento para fazer a pergunta: como está sua criança interior? Afinal de contas, ela está aí dentro, em algum lugar.

“Não temos como nos desfazer da criança que fomos, pois somos feitos, gerados, pela infância que tivemos. O desenvolvimento não é como uma escada, em que a pessoa sobe e avança. Cada etapa fica integrada à seguinte”, afirma a pedagoga Tânia Ramos Fortuna, coordenadora do programa “Quem quer brincar?”, realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). De acordo com ela, a percepção de que o desenvolvimento psíquico não acontece em etapas sucessivas, mas integradas, demorou a ser reconhecida entre os estudiosos.

“Não é apenas possível, como necessário, manter nossa criança interior”, reforça Tânia. Muitas pessoas insistem em eliminá-la para enaltecer aquilo o que a pedagoga classifica como “uma adultez antipática”, que faz com que nem os adultos queiram ser adultos. “Precisamos buscar uma reconciliação, parar de brigar com quem fomos e com quem nos habita”, orienta.

Sem infantilidade
Manter viva a criança interior não significa, porém, que é preciso voltar à infância por completo e adotar atitudes infantilizadas. “Acabam confundindo, mas isso não significa ser uma pessoa descontrolada, brincalhona e nem viver no passado. É na criança interior que estão nossos sonhos e quem realiza é o adulto”, avalia a coach de vida e treinadora do Instituto Vencer, Eliane Santos.

 

Brilho nos olhos por toda a vida
É possível que a pessoa, apesar de adulta, mantenha sua criança interior na maneira de encarar a vida, lidar com os problemas ou com as decisões do dia a dia. Tudo isto sem perder o encantamento, o brilho nos olhos que é comum entre os pequenos. “Quando somos criança não temos medo dos desafios, mas o adulto, com tantas coisas que vão acontecendo durante a vida, vai criando bloqueios, deixa se sonhar, de ser criativo e até de amar”, afirma Eliane. E ao mesmo tempo em que os benefícios vão aparecendo na rotina, para as mulheres, em especial, isso traz à tona o seu principal papel: a essência de ser mãe, uma vez que a aproxima dos filhos e facilita a interação entre eles.

A maternidade faz parte dos planos de Tatiane Cavalcante Peterlini, de 29 anos, que faz questão de continuar com a criança viva dentro de si. Enquanto não se torna mãe, ela aproveita sua principal característica para interagir com as crianças na profissão de educadora. “Tenho paixão pela infância. Quando vou a festas, as crianças ficam sempre perto de mim”, conta ela, que não perde a oportunidade de inventar brincadeiras, fazer várias caretas, vozes e imitações com os alunos, sobrinhos e amigos (adultos e crianças).

Filha mais velha e com mais um irmão, Tatiane passou a infância na cidade de Parambu, no interior do Ceará, e sempre foi muito criativa na hora das brincadeiras. Isto se estende até hoje e ajudou a conquistar seu marido. “Sou nordestina de coração, tenho que ser engraçada”, brinca. E, rodeada por crianças, ela não deixa apagar as características de quando era pequena. “Elas perdoam mais, mantêm a alegria e o encantamento. Assim continuo acreditando num mundo melhor. Sou brincalhona, percebo que assim contagio as pessoas. Já chego fazendo piada, dando risada. Acho até que isso incomoda algumas pessoas, mas eu não ligo”, garante, emendando uma gargalhada.

 

Brincadeiras fazem bem pro corpo e pra mente
Se a criança interior faz com que a vida fique mais leve, não deixar de brincar traz ainda mais benefícios, especialmente para o corpo. A atividade física por si só promove a sensação de bem estar, diminui o stress e melhora a autoestima. A personal trainer Cau Saad destaca que realizar isso brincando, especialmente com os filhos, faz com que o momento se torne ainda mais divertido, além de aproximar as famílias. “Não tem idade para brincar e tudo que é lúdico é mais legal do que uma coisa careta”, afirma.

Para os pequenos, brincadeiras tradicionais, como pular corda, caçador ou amarelinha, por exemplo, ajudam a desenvolver o corpo com equilíbrio, agilidade e força. Nos adultos, o efeito é recuperar estes elementos, que vão se perdendo com o avanço da idade. “É muito importante estimular a criança desde cedo a dizer não ao sedentarismo e à preguiça. E os pais passando a vivência e as brincadeiras antigas resgatam uma juventude saudável, com mais atividades físicas e menos tecnologia”, avalia.

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