Vivendo no limite

Tribuna | 03 de abril de 2013 | Foto: Arquivo/Tribuna

Motoristas e cobradores de ônibus vivem no limite durante suas rotinas de trabalho. É o que o Ministério Público do Trabalho (MPT) está investigando, após receber denúncias do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Curitiba (Sindimoc) sobre as condições da categoria, que de acordo com a instituição, é pressionada pelas empresas do transporte coletivo e a Urbs.

De acordo com o presidente do Sindimoc, Anderson Teixeira, 2% entre os cerca de 12 mil funcionários do sistema de transporte estão afastados e em tratamento por causa do estresse. “É alto nível de estresse que está aumentando entre os motoristas e estamos alertando isso há algum tempo”, afirma. Teixeira aponta o rigor no tratamento aos funcionários, as multas aplicadas pelas empresas aos trabalhadores, problemas com escalas de trabalho e o trânsito como fatores que afetam a saúde mental dos motoristas.

Danos à saúde
“Recebemos denúncias sobre o estresse dos motoristas e estamos apurando os fatos. Basicamente as situações acontecem por causa das exigências de horários, as multas pelos fiscais que muitas vezes os motoristas têm que arcar e o trânsito cada vez mais pesado”, afirma a procuradora do MPT Marília Massignan Coppla. Ela destaca que estas situações podem causar danos à saúde mental dos profissionais como problemas físicos, evoluindo à gastrite e afetando a saúde do coração.

 

Mãe separada da criança
A situação veio à tona mais uma vez esta semana, depois que se espalhou pelo Facebook o relato do jovem que no domingo estava no biarticulado Pinheirinho-Rui Barbosa quando o motorista teria se recusado a parar o ônibus depois que uma mãe notou que um de seus filhos havia ficado na estação-tubo.

“A mãe entra em desespero. Logo, eu, meu amigo e outras pessoas nos manifestamos solicitando que o motorista parasse. O condutor ignorou o pedido, agindo de forma grosseira quando questionamos se ele não tinha família, respondendo da seguinte forma: “Tenho, mas a dela que se dane, vem aqui dirigir; você não é o bom?’”, descreveu o rapaz na rede social. O texto, que recebeu mais de 17 mil compartilhamentos, diz ainda que o motorista chamou os jovens para briga, mas retornou à estação-tubo na Praça Rui Barbosa para que a mãe encontrasse a filha.

Advertência
Em relação a este episódio, a assessoria de imprensa da Urbs afirmou que a empresa foi comunicada e o motorista recebeu advertência por escrito. De acordo com o órgão, a ocasião não permitia que o veículo voltasse de ré ao ponto de ônibus, mas que a atitude correta do motorista seria atender a passageira e oferecer a possibilidade de descer pela porta de emergência ou desembarcar na próxima estação.

 

Críticas à carga horária
Entre os problemas que afetam os trabalhadores do sistema de transporte coletivo, o presidente do Sindimoc, Anderson Teixeira, critica a política das empresas em relação ao cumprimento da carga horária dos funcionários. Mesmo com a previsão de seis horas diárias, o sindicalista diz que muitos motoristas e cobradores ficam à disposição das empresas por mais de 9 horas. “Ele cumpre três horas na linha de ônibus e só depois de três horas vai trabalhar em outra linha por outras 3 horas. Ou seja, fica à disposição por 9 horas, que não são contadas como horas trabalhadas”, explica.

De acordo com Teixeira, também são constantes os casos de represálias por atrasos ou faltas. “Quem atrasa perde a escala, troca o horário de serviço ou ganha dias de suspensão como punição”, reclama. Ainda assim, afirma que já conseguiu algumas melhorias, como a possibilidade de recalcular os horários para os trajetos. Nenhum dirigente do Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp) se manifestou sobre o assunto até o fechamento da edição. Já a Urbs informou que não impõe penalidade pelos atrasos e isso só acontece quando a demora para sair do ponto não é justificada.

 

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